Sarapatel dos Estetas |
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Érico
Vieira Leão Pereira
Divinópolis
- M. G..
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Contos |
Criticam-me por eu ser um cão. De fato, eu o sou, mas, devo acrescentar, sou um fox terrier de nobre ascendência, um verdadeiro aristocrata canino, não um mero vira-latas, como o são a maioria de meus detratores, esses sim, verdadeiros animais. Esses rábulas sarnentos dizem que minha obra é ininteligível, e que minha (laureada) tese de pós-doutoramento, “A Comunidade Argumentativa das Pulgas —Prolegômenos a uma Ética Ecológica do Discurso”, seria um amontoado de latidos incongruentes. Ora, sabemos que essa súcia de escolásticos antediluvianos só têm olhos para os próprios umbigos mal-lavados! Quanto a mim, tenho lutado, desde filhote, pela igualdade de direitos entre todos os seres dotados da palavra, seja ela falada, latida, miada, balida, relinchada ou mesmo zurrada. Sou um cão, mas em que isso depõe contra mim? Nada, absolutamente! Digo que esses vilões gaguejantes sequer são capazes de admitir que seu verdadeiro alvo não são meus humildes trabalhos, e sim, a própria Filosofia! Esses bárbaros, apologetas de um apocalipse que nunca virá, são inimigos da Racionalidade ela mesma! Amigos, a solução de todos os nossos problemas comuns está em nossas mãos. Basta que nos sentemos juntos e deliberemos com seriedade sobre as questões que nos afligem a todos. E unamos nossas vozes num coro, conclamando todos os seres a serem razoáveis. (Bem, com a barulheira infernal que fizermos, ninguém poderá ficar indiferente mesmo...)” Não vemos melhor modo de homenageá-lo do que publicando postumamente uma coletânea de seus mais instigantes artigos. A tradução dos mesmos do latim para o português já está em andamento, e o título da obra, segundo orientação do próprio autor, será “A Filosofia Sobre Quatro Patas”. (Vale aqui lembrar que sua derradeira obra foi um pequeno e curiosamente simétrico montículo de fezes deixado na porta da entrada do auditório onde se realizou sua última palestra. Tal obra será lembrada eternamente, e com emoção, por todos nós que nela pisamos ao abandonarmos o recinto...) |